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sábado, 18 de noviembre de 2023

Torga .- Vindima

      ALTO DOURO VINHATEIRO, paisagens, histórias e dicas para visitar

 Já faz tempo, desfrutei coa leitura de Vindimia de Torga. Adoro o estilo dos romancistas portugueses  (do XIX e metade do  XX) dende Eça de Queiroz, Aquilino Ribeiro , Camilo Castelo Branco, Saramago, Torga etc. Por citar assim de pressa  os que eu li  em algumas das suas obras. Falo como simples leitor e grande admirador de todos eles cos que tenho desfrutado moito da sua escrita. 

 E moito  especialmente Torga, por a sua escrita e por tratar-se do mais vicinho de todos eles. O escritor transmontano fala da sua terra, das montanhas e as suas aldeis, especialmente  das gentes que nelas moram. Mas também está a descrever,  o mesmo tempo,   a minha terra e as minhas aldeias fronteiriças e as suas gentes. 

      Despois de ler Vindimia teve o gosto de fazer uma escolma de párrafos diferentes, inconexos, colhidos à solta,  copiâ-los e deixa-los aquí pra repasar, ler e também como para  recordâ-los,  como se tivesse o íntimo desexo de aprendê-los e imitâ-los. Mas a única razão é defrutar a escrita e o português, tão galego,  do grande Miguel Torga.

( Torga .- Vindima)

CINGUIDO a realidade humana do momento romancei un doiro atribulado, de clases, injustiça, suor e miseria. 

Ese doiro está en vías de mudar.

Eram quarenta pessoas a o todo entre homens, mulheres e crianças…Penaguião  é uma eira de palha moída, ja bafejada das primerias arangens frescas, sen ganhos, desolada à espera das grandes invernias.

Mas colhido o centeio nos planos altos do granito pouco ou nada mais há que fazer durante uma temporada….

A brancura mansa do leite das ovelhas enche a alma de cadura morna e o corpo de uma forá virginal e conformada.

Patamares de descanso na grande escadaria…

Vinham numa nuvem de pó  e num redemoinho de som de todos os lados da serra.

Nos rostos ossudos de cada bando lia-se a mesma felicidade nómada de ciganos libertos.

Encosta esparaiada de cepas a olhar o rio ao fundo e o céu lá no alto a cavadinha

Dançando o último fandango, esgotado o reportório das cantigas, a tarde caíra sonolenta sobre ás léguas do caminho.

Havia risadas intencionais, a sublinhar o sentido pícaro de cada motejo. Havia motejos íntimos canados  que queriam silêncio para adormecer. Havia cochichos íntimos entre vizinhas que se tinham   procurado para dormir lado a lado. Havia a vida a correr debaixo da telha vã por onde a lua começava a espreitar.

Foram as últimas palavras que se ouviram . depois delas a cadenha deixava sair apenas através das frestas de pedra lousa o rumor de fundas e quentes respirações. Mais tarde, pela noite adiante, também se sentia de quando em quando ranger a porta, e um som raivoso e morno de água a correr. Eram furtivos vultos que se erguiam da vala, e vinham urinar á entrada. Como sonâmbulos, esvaziavam  na grande concha de luar a teimosa realidade que os afligia e caíam novamente na bem-aventurança, do nada.

O sol a pino lambia os bagos de alvaralhão, besuntava-se de melaço, e escorria em calda pelas cepas abaixo. As lajes de xisto reluziam como brasas pela ecosta acima. Ao fundo, o Doiro, morno, pesado, cor de tijolo, lembravaa água de uma grande barrela que alguém fizesse lá para bandas do Pocinho.

O senhor lopes instalou-se còmodamente na poltrona de veludo e desdobrou o jornal. Sólido, bem tratado, todo ele respirava vontade e conviçção. Abria as folhas da gazeta coo se quisesse penetrar em pessoa na intimidade das própias notícias, ali postas por sua intenção.

O POVO SO A CHICOTE. Nada de palavreado de conversa fiadas de explicações. Tempo perdido. Quanto a isso a sua experiência dera-lhe certezas inabaláveis. As pessoas não são iguais. Unas nascem para subir e mandar; outras para ficar onde estão e obedecer. E quando as coisas se baralhavam cada um saía do seu lugar, via-se o resultado: aquela anarquia deploravel.

O COMBOIO ATULHADO, ARRASTAVA-SE LENTAMENTE, agora no meio de uma paisagem escalvada, de mortórios agresivos,o río torutado e barrento, ia passando a direita num doloroso esfoço contraído. Um  calor de fogueira ondulava  no ar, grosso e pessado.

Rijo de corpo , resistia aos anos sem dar esperanças de se retirar da dena. Mas, sincera ou insincerametne, ninguém se mostrava cansado da su presença incómoda.

Susana da Conceição de Vasconcelos Carneiro Meneses de Castro. 

No retalho da enconsta vindimada o luar avolumava a tristeza das videiras sem uvas. As vides erguiam para o céu as varas vazias, desfolhadas, como num protesto. A terra pisada e babada de sumo tinha também um ar violado e descomposto. A medidas que as navalhas avançavam as vinhas iam perdendo a graça.

Pela telha vã do cabanal o luar entrava como por um ralo. E no lençol de palha centeia, estendidos ao deus dará, os corpos iam-se desenhando, jovens e fortes alguns, velhos e mirrados outros, com pormenores escancarados-uma persona um braço um seio, um sexo, até.

Embora doridos dos rins, do trabalho e da rigidez cautelosa, pareciam estátuas derrubadas.

Até que o luar se toldou no  cëu. Pèlas frestas da cadenha, a luz rarefeita foi perdendo a claridade. Desmaiou, empalideceu, escureceu, e então compreenderam ambos que havia passado a hora. A volupia que sonhavam necessitava do incitamento das formas  que palpitavam ao lado. O desejo  tirava parte da urgência do aguilhão natural que o espicaçava. Rodeada de calor e de cheiro a imaginação engolfava-se por caminhos de irresponsabilidade. E o llugar morrea, apagados os corpos na escuridão, apagara-se o lume da fogueira. Restava, pois, adormcer, descansar, acordar, trabalhar, e esperar por nova noite e nova oportunidades. E ter então coragem.

Desciam do alto das filas de vindimiadores sob cestos acougalados, ouviam-se pancadas do tanoeiro nos arcos das cubas, ciava um carro de bois pela vinha acima. E os  que passavam esfarrapados e besuntados, demoravam-se o tempo que podiam a olhar com mudez escarninha o luxo dos três recém-chegados.

Vestida de  preto, magra, hirta a ddona Maria jorge representava no mundo a condenação severa e permanente do marido.

Primeiro a desgraça chegou assim, en clamores imperativos. Um momento depois subia num redemoinho de vozes aflitas, implorativas e confusas.

Soturna e brumosamente, o instinto dos homens evocava ancestrais fadigas na surriba e na poda, na escava e na levanta, na enxogra e na desfolha, no sulfato e na redra, num rememorar suberrâneo e dorido de todos os passos do calvário onde a própria vida tinha de vez em quando a sua crificação.

O ar cheirava a terra molhada, a mosto e a trovoada. Cada passo era um apelo do chão a paz de um leito sem penas, saibroso e quente como a vida. E ouviram mais essa voz.

Na junceda também o dia amanheceu claro e aliciante.

Também a luz quente e perfumada do dia enebriara Guiomar. Também no seu coração vazio entravam  sem defesa possível alguns raios do sol escarolado que banhava a terra. Uma certeza estranha, inesperada e nova, empurrava-lhe suavemente os assos pelas alamedas da quinta. Sentía o  coração inundado de não sabia que alvorço indefinido.

Um trilo de flauta, débil e puro, chegou-lhe entãodo alto num prelúdio. Impreciso é tímido, hesitava como se reciasse saltar os valeiros.

Entretanto na mantelinha Alberto caçava. O primeiro bando de perdizes roncou,e tirou-lhe a duas. No meio do silêncio contido, que a cada momento ameaçava romper-se, o cão parado, a espingarda en meia pontaria, os pés fincados no  chão mas tensos como molas, uma gota misteriosa caiu no copo e fê-lo transbordar. ….seguiram-se horas de procura afincada, de passos ora sorrateiros, ora vasulhadores, de pedras roladas pelas encostas, de imitações toscas do bater de asas, de ilusões e desilusões do perdigueiro, desorientado pelo vento e pelo desejo.

miércoles, 16 de diciembre de 2015

Miguel Torga. O escritor de Trás os Montes.

  1. A vida é feita de nadas:
    De grandes serras paradas
    À espera de movimento;
    De searas onduladas
    Pelo vento;
    De casas de moradia
    Caídas e com sinais
    De ninhos que outrora havia
    Nos beirais;
    De poeira;
    De sombra de uma figueira:
    Meu pai a erguer uma videira
    Como uma mãe que faz a trança à filha.

Miguel Torga